domingo, 5 de setembro de 2010

A Revolução Necessária

Capa do raríssimo "Anauê!", obra de Poesia Integralista do saudoso Companheiro José Mayrinck de Souza Motta.

Mayrink
Despe a camisa verde - imediatista,
incapaz da renúncia do presente:
Nem por mudar uma camisa, a gente
conseguirá fazer-se Integralista...

Quem a vestiu, sonhando uma conquista
ambiciosa, iludiu-se, totalmente:
- O soldado de Deus não traz em mente
nenhuma presunção personalista...

Integralismo é a escola da humildade:
- Cristo pregando a reforma interior,
na Judéia do egoísmo e da vaidade...

Despe a camisa verde, da revolta
que não sentiste - ó mísero impostor...
Anula-te a ti esmo... e depois volta...

(Transcrito do Nº 1 da Revista Anauê!, Janeiro de 1935, Ano I)

sábado, 28 de agosto de 2010

PALAVRAS AO MAR

Marcus Sandoval

Eu não gosto de ti, és maior do que eu
Na cólera, na raiva e na maldade!
Se, às vezes, fico a olhar a imensidade
Das tuas águas, tremo e peço ao Céu
Que te extingua!

Tu não cantas - regougas!
Tu não choras - blasfemas!

Se nas praias, nos dias de verão,
Te mostras esplendoroso,
É para lamber os corpos nús
Li...bi...dinoso!

Traiçoeiro,
Das cem mil galeras que destroças,Assasinas cem milh~es de marinheiros.
Covarde!

E dizem que tu amas,
Que vives enamorado de alguém
Que te não quer,
Porque és mau!

Nunca mitigaste a sêde de ninguém,
Cruel!

- Eu amo a límpida corrente,
Que se oculta medrosa,
Que canta e chora, que soluça e geme,
Que dá de beber aos que têm sêde,
Que acaricia a face austera
Dos barrancos e das ribanceiras!
Que beija os pés das crianças
E lava roupa com as lavadeiras...

A essa, sim, oh! velho Mar, eu amo!
Porque detesto os orgulhosos e os tiranos!

(SANDOVAL, Marcus. Água da Fonte - Poesias Escolhidas. Rio de Janeiro: [s.ed.], 1944. Transcrito das páginas 76 e 77)

E POR TODOS OS SÉCULOS DOS SÉCULOS...

Versos aos que vacilam

Mayrink

Desta luta sem fim, ninguém deserta!

Trazes as mãos de sacrifícios cheias:

Não é possível que afinal descreias

da Vitória do Bem – porque ela é certa!


Como se faz a um caramujo, aperta,

no ouvido d’alma, a Pátria – e, em tuas veias,

sentirás saudades das cadeias

e a voz dos Mortos te dizendo – Alerta!


Por sobre o tremedal do conformismo,

atira a tua Fé no Integralismo

- puro e distante como a luz de um astro:


Eu só posso enrolar a bandeira,

a que entreguei uma existência inteira

- para crucificar-me no seu mastro...

(Transcrito do Boletim “O Idealista” – Ano 1 – Abril – Maio – Junho de 1987 – Nº 3 – pág. 2)

TRANSFORMAÇÕES

A. Lorenzzoni*


Ilusões da Vida

"Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem
Só passou pela vida, não viveu”.

Francisco Otaviano
(1825 - 1889)



Narrar-te tudo o que vivi...
As batalhas e adversidades,
Sobretudo (e por quê não? ) as felicidades
Escuso-me agora.
Não cabe aqui,
Em poucas palavras.
Esta que envio-te por hora
É apenas uma carta.
Longa história se demora;
E como não estou vendo teus olhos,
Recuso-me a contar.

Interessa apenas o vazio que senti...
Sombrio como vagalhões
Em negras tempestades,
Que arrebatam e afogam o solitário navio.
[Velejava
Sem rumo
Imenso oceano
Sem perspectiva]


Tão diminuta cultura...
Falta-me o Latim.
E onde estão os símbolos pátrios
Que deveriam ornar vestes,
carros e jardins?


Tão estranhas pessoas...
Respeito, discrição, dignidade
Parecem ter se dissipado
(Quase sepultados!)
Entre brumas formadas
Pelos excessos materiais,
Vícios, agitações,
Apostarias e liberalidades.
E onde estão as artes e memórias
De ilustres brasileiros
Nossos antepassados?


Tão misteriosa vida...
Segui também o caminho atraente,
Despojado de preceitos morais.
Abandonei virtudes,
Neguei tradições.
Acreditei numa falsa liberdade;
Tardiamente percebo os grilhões.
Onde está minh’alma?


Alquebrada...
Deixei-a muito tempo à deriva,
Como aquele navio.
É então deste vazio que te falo...


Acabrunhada...
Voltei-me ao passado.
Descobri fortalezas;
Desejos íntegros,
Ideais sinceros.
Apoderaram-se do meu pensamento
Esses novos e nobres sentimentos.
Ocupam, gradativos, o vazio.
E já consigo entrever um futuro gentil.


Mas, tencionava eu ser breve...
Então apresso as despedidas.
Em tempo, previno-te ainda:
Urge indicar-nos a direção
Ao quebrantado navio!
(Onde está nosso Brasil?)

novembro /2000.


* Σ – Curitiba – PR

O LIVRO

Plínio Salgado.


O livro é um forte guerreiro,

É um rijo batalhador...

Domina o Universo inteiro

Com formidável vigor,

Responde augusto e altaneiro

Cheio de um vivo fulgor !

O livro é um forte guerreiro...

Nas mais tremendas batalhas,

Nos conflitos das nações,

- Mais forte que mil fornalhas

Das forjas de mil titões.

-Tem mais valor que as metralhas,

Tem mais valor que os canhões

- Nas mais tremendas batalhas!

O livro é um forte guerreiro...

Nas mais tremendas batalhas...


(Escrito aos 16 anos de idade)

Na São Paulo de Ontem

Victor Emanuel Vilela Barbuy*

Manhã. Sol. Gotas de orvalho. Sobre as flores do jardim.

Jardim modesto de meu sobradinho.

Um aeroplano passa voando pelo céu de translúcido azul.

Um bonde leva namorados para "pic-nics" na Represa de Guarapiranga.

Em Santo Amaro. O meu Santo Amaro. De onde vem este vento fresco.

Centro da Paulicéia. Rua XV de Novembro. Passantes apressados.

Jornaleiros. Um almofadinha passa numa baratinha. Fon-fon.

Charretes. Carroças. Bondes. Mais baratinhas. Um Rolls-Royce.

É de um grã-fino. Paulista dos quatro costados. Quatrocentão.

Frisa no Municipal. Palacete nos Campos Elíseos. Estilo neoclássico.

Jardins italianos. Gárgulas. Chafariz. Ciprestes. Móveis vindos de França.

Lustres de cristal de Baccarat. "Aubussons". "Gobellins". Jarrões de Sèvres.

Se dirige ao Automóvel Clube. O "chauffeur" é italiano.

Bairro operário. Chaminés cospem fumaça. Apitos.

Um vassoureiro passa com seu pregão. "Liberté, égalité, vassouré".

Crianças brincam. Amarelinha. Um fonógrafo. Ecoa a voz de Caruso.

Verdi. "Rigoletto". "La donna è mobile". Outro gramofone. Chora um tango.

Argentino. Triste. De volta ao Centro. Arranha-céus.

Quando ficar pronto o Martinelli será o maior arranha-céu.

Fora dos Estados Unidos. São Paulo não pára.

É a Chicago da América do Sul. Maior centro industrial. Da América Latina.

A cidade que mais cresce no Mundo.

E o Conde Matarazzo é o italiano mais rico do Mundo.

E o homem mais rico fora da Pátria de Lincoln. E de Ford. E do fox-trot.

Tarde. Avenida Paulista. Plátanos. Palacetes suntuosos.

Trianon. Moças elegantes. Alunas de Madame Poças Leitão.

Palacete mourisco. Uma linda turquinha passeia no jardim.

Palacete renascentista. O filho do Cav. Uff. sai numa Isotta-Fraschini.

O pai da turquinha começara como mascate.

E o Cav. Uff. como colono. Quase escravo. Numa fazenda da Mogiana.

Jardins. Os bairros. "Bungalows". "Chalets". Alamedas. Arborizadas.

Escurece. Noite. Estrelas. Jaci. Garoa. Frio.

Um "rendez-vous" perto da velha Academia.

Jazz-band. Charleston. Maxixe. Luzes de néon. Polacas.

Francesas. Champanha. Charutos. Cigarros. Piteiras.

Teatro Municipal. Reminiscências. 22. A Semana. Pinturas.

Poesias. Vaias. Aplausos. Futurismo.

Saudades. Infância. Santo Amaro.

O cemitério. Bento do Portão. A Igreja. O Largo.

O casarão imortalizado por Paulo Eiró.

Praça Floriano. A nossa casa. Roseiras.

Na janela tinha um limoeiro que vivia carregado.

Mais lembranças. Minas. Alterosas. Sertão. Oeste.

Oeste. Alto São Francisco. A cidadezinha da mãe.

Casarões coloniais. Igrejas. Fazendas.

Brejos. Saracuras. "Três pote'. Três pote'".

Ainda mais lembranças. Tosse. Sangue.

Trem. Montanha. Um rancho na Mantiqueira.

Araucárias. Pedra do Baú. Casas baixas. Caboclos.

Modinhas de viola. Cigarros de palha. Inverno.

Frio quase siberiano. Geada. Primavera. Floradas.

Pessegueiros. Pereiras. Cascatas. Pinheiros.

Morte do Bezerra. Colega de quarto e de doença.

Cemitério. Ciprestes em fila. Viúva. Choro. Coroas de flores.

Cura. Volta pra casa. Paro de recordar. Amanhece. Fim.


* Σ - São Paulo - SP. Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira - FIB.

Canção das Águias

Plínio Salgado.*

Eleva-te no azul! Corta-o, serena e forte...
Rasga o seio à amplidão! Embriaga-te no arrojo
do vôo triunfal! Deixa que estruja o Norte,
que o mar rebente em fúria e levante do bojo
as potências revéis e as ciladas da morte!
Atira-te no espaço!

E, se um dia, singrando os céus, vieres de rôjo,
rôtas as asas de aço,
ferido o coração, a alma descrente,
não te abata o cansaço,
do oceano, atro e fatal, não te sorva a torrente...
Grita, forceja, anseia e combate impoluta!
Morre a lutar!
Morre na luta!
Mas, antes de morrer, tenta ainda voar!

(Transcrito da pág. 5 do "Poemario da Vida Heróica" – Rio de Janeiro – Livraria Clássica Brasileira – 1955 – 39 págs. Coleção "Águia Branca".)

* Plínio Salgado tinha 22 anos quando escreveu esta Poesia.